terça-feira, 1 de maio de 2012

Quando os sentimentos lhe traem


Folha de papel espalhada a mesa, violão no colo esperando o dedilhar, canetas a postos para borrar e desborrar, riscar e delinear. É hora de compor. É hora de arremessar ao chão a suja sobrecasaca do dia-dia, que envolve, e espessa a pele, que esconde as verdadeiras emoções e nos protege do frio do desamor.

Os sentimentos começam a migrar. Eles, antes reclusos e escondidos nas profundezas do coração, emergem a pele, emanam do corpo o calor do "sincero eu". É quando finalmente a latência desse calor se intensifica e toma vida, acendendo a chama da alma que estava adormecida entre pressões e mentiras.

A alma, ainda sonolenta pelo seu repentino despertar, começa devagarinho a lhe cochichar os segredos, suas agonias e alegrias, suas fraquezas e virtudes. Confissões se misturam e se separam no fogo, que respinga verdade em palavras. As palavras vibram, a melodia, o ritmo e harmonia flamejam em brasa ardente.

O fogo cessa, e a alma volta a dormir. Quando se olha o chão, da antiga sobrecasaca não sobraram mais que meras cinzas. O lado bom? A leveza da verdade. O lado ruim? A sensibilidade. Sua face durona perdeu sua rigidez, a sua voz abdicou da imponência intimidadora, seus olhos renunciaram a olhares frios e indiferentes. Agora você está vulnerável, sua cara está dada a tapa para os dissimulados que fingem nada sentir.

São quando os sentimentos lhe traem. Mas pensando bem, pra que tentar fingir ou ludibriar? É melhor sofrer por aquilo que você é, do que viver na mentira que o mundo criou.

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