segunda-feira, 28 de maio de 2012

O apreensivo calar das ruas

É noite na cidade. Os carros passam nas avenidas com seus faróis apontados para o horizonte, pedestres andam olhando de um lado para o outro, com a apreensão sufocante de quem quer logo sentir o conforto e a segurança de casa. Isso para aqueles que a tem.

Olhe! O espetáculo vexaminoso das nossas ruas está prestes a começar!

Num canto, as prostitutas ofertam seu corpo sob a pálida iluminação das lampadas incandescentes. Do outro, um podre e "xexelento" mendigo, com as vestes rasgadas, coberto por jornais, agarrado com a pinga na qual afoga suas mágoas e esperanças. Entre eles, um menino drogado escorado num beco, que vê sua infância e juventude ser-lhe tiradas pela impiedosa "Lei das Ruas".

Ande mais rápido! Ande mais rápido! Pois o silêncio da madrugada é o alerta vermelho.

E dessa tenebrosa atmosfera do caminhar nas ruas a noite, surge a mais nova composição:


Olhe para o lado pra não ser assaltado 

Olhe para o outro pra não ser atropelado 
Olhe na esquina o perigo temerário

Olhe para carros, condutores estressados 

Olhe para o beco, pobre menino drogado 
Olhe sem vergonha este patético cenário

Prostitutas ao canto 

Escuridão faz seu palco 
Luzes incandescentes 
Contrastando no asfalto 

Mendigo ao relento 

Com uma pinga agarrado 
Deitado na calçada
Sob o jornal do mês passado 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Crescer

Ontem, esconde-esconde, polícia e ladrão, bolinha de gude. Hoje livros, provas, trabalho. A infância com seu encanto nostálgico sempre lembra da maravilha de ser criança. O tempo encurta, o mundo nos força a crescer, tomar responsabilidades, criar independência. Mas quem disse que é fácil?

A pressa anda ao seu lado, medos precisam ser enfrentados, convicções tornarem-se atitudes, personalidade constituir força.


Como é difícil sair da inércia
da minha infância tão pura e singela

Como é difícil desprender de medos
que estão amarrados ao passado

Eu sinto
O chão tremer

Eu vivo
Num canto rodeado de preocupações

Vamos garoto !!!
Vamos garoto !!
Vamos garoto !

O mundo está chamando...
Cresça!
Não quero mais que obedeça...
Simplesmente porque estão lhe ordenando

Vibre !
Com o seu revólver de calibre 38 
Extermine argumentos tiranos


Como é difícil deixar uma festa
Pra conviver com o fantasma da pressa

Como é difícil prever o futuro
Oh linha do tempo cada vez mais curta

Eu crio
Um som, o meu
Destino
Abandonando a indecisão

Vamos garoto !!!
Vamos garoto !!
Vamos garoto !

O mundo está mudando
Cresça !
Não quero mais que você desça
ao nível de quem só vive mendigando

Grite !
Em um alto-falante, atire pedras,
dispare contra um sermão insano


Destrua tudo aquilo que te acorrenta
Na mesmice, no marasmo 
Corra, desfrute de sua independência 
Pois por você ninguém mais correrá

sábado, 12 de maio de 2012

Aventura de amor



Ei você

Sente nada e tudo ao mesmo tempo
Confuso fervor de sentimentos

Ei você

Vem viver comigo essa aventura (de amor, de amor)
Construir castelos de ternura
Wo ho wow

Libertarei esse amor do teu peito

Remendarei rachaduras com beijos
Passearemos num voo rasante 
Enxergando infinito, ao olhar o horizonte

Que selva negra de folhas cortantes

Serei o rio em que escoa teu sangue
A toda dor que margeia estes planos
Se transforme em amor num oceano de sonhos

Ódio ou amor?

Prazer ou dor?
Terá você que descobrir
Seu sentimento aguçará
Ao ponto de você explodir

Venha viver, se aventurar, se jogar

Pois do seu lado, estarei até o fim

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Democracia de tolos


Sem educação, a democracia não passa de mera ilusão.


Concedi o poder a velhos coronéis 

Que compram sua liberdade à troco de migalhas

Divulgo notícias modificadas de acordo

Com os interesses de quem patrocina o jornal

Mantenho conhecimento na mão de poucos 

Pois afinal não quero que saibam 

Sou a democracia de tolos


Depressa, levantem as mãos 

Lá vem eles, os representantes da nação
Escondendo seus esquemas fraudulentos em votos secretos

Governamos pro partido, foda-se o progresso


Negocio os cargos de ministério 

Os imbecis a comando da corrupção

Ninguém consegue provar o que já foi feito

Lá vem o STF com a absolvição

Enquanto isso o povo lá sentado

Vendo seu dinheiro e esperança

Escoarem pelo ralo


É eleição 

O circo está armado
Azul contra vermelho 
Demagogia pros otários

Marketeiro empregado

Horário obrigatório
Debate sem riqueza
Só me interessa o seu voto

Princípios denegridos 

Interesses exaltados
Tudo para manter
O meu fiel eleitorado

O qual não me conhece 

Não sabe quem eu sou 
Nasceu no sistema 
Que não o educou 

Depressa, levantem as mãos 

Lá vem eles, os representantes da nação
Escondendo seus esquemas fraudulentos em votos secretos

Governamos pro partido, foda-se o progresso


Quer um emprego no governo?

Eu posso lhe dar
Estabilidade permanente
Ninguém vai lhe cobrar

Vou inventar novos impostos

Criar novos cargos 
Pra ampliar a ineficiência 
Do aparelho do estado

Sou a democracia de tolos

De todos nós

terça-feira, 1 de maio de 2012

Quando os sentimentos lhe traem


Folha de papel espalhada a mesa, violão no colo esperando o dedilhar, canetas a postos para borrar e desborrar, riscar e delinear. É hora de compor. É hora de arremessar ao chão a suja sobrecasaca do dia-dia, que envolve, e espessa a pele, que esconde as verdadeiras emoções e nos protege do frio do desamor.

Os sentimentos começam a migrar. Eles, antes reclusos e escondidos nas profundezas do coração, emergem a pele, emanam do corpo o calor do "sincero eu". É quando finalmente a latência desse calor se intensifica e toma vida, acendendo a chama da alma que estava adormecida entre pressões e mentiras.

A alma, ainda sonolenta pelo seu repentino despertar, começa devagarinho a lhe cochichar os segredos, suas agonias e alegrias, suas fraquezas e virtudes. Confissões se misturam e se separam no fogo, que respinga verdade em palavras. As palavras vibram, a melodia, o ritmo e harmonia flamejam em brasa ardente.

O fogo cessa, e a alma volta a dormir. Quando se olha o chão, da antiga sobrecasaca não sobraram mais que meras cinzas. O lado bom? A leveza da verdade. O lado ruim? A sensibilidade. Sua face durona perdeu sua rigidez, a sua voz abdicou da imponência intimidadora, seus olhos renunciaram a olhares frios e indiferentes. Agora você está vulnerável, sua cara está dada a tapa para os dissimulados que fingem nada sentir.

São quando os sentimentos lhe traem. Mas pensando bem, pra que tentar fingir ou ludibriar? É melhor sofrer por aquilo que você é, do que viver na mentira que o mundo criou.