É noite na cidade. Os carros passam nas avenidas com seus faróis apontados para o horizonte, pedestres andam olhando de um lado para o outro, com a apreensão sufocante de quem quer logo sentir o conforto e a segurança de casa. Isso para aqueles que a tem.
Olhe! O espetáculo vexaminoso das nossas ruas está prestes a começar!
Num canto, as prostitutas ofertam seu corpo sob a pálida iluminação das lampadas incandescentes. Do outro, um podre e "xexelento" mendigo, com as vestes rasgadas, coberto por jornais, agarrado com a pinga na qual afoga suas mágoas e esperanças. Entre eles, um menino drogado escorado num beco, que vê sua infância e juventude ser-lhe tiradas pela impiedosa "Lei das Ruas".
Ande mais rápido! Ande mais rápido! Pois o silêncio da madrugada é o alerta vermelho.
E dessa tenebrosa atmosfera do caminhar nas ruas a noite, surge a mais nova composição:
Olhe para o lado pra não ser assaltado
Olhe para o outro pra não ser atropelado
Olhe na esquina o perigo temerário
Olhe para carros, condutores estressados
Olhe para o beco, pobre menino drogado
Olhe sem vergonha este patético cenário
Prostitutas ao canto
Escuridão faz seu palco
Luzes incandescentes
Contrastando no asfalto
Mendigo ao relento
Com uma pinga agarrado
Deitado na calçada
Sob o jornal do mês passado
segunda-feira, 28 de maio de 2012
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Crescer
Ontem, esconde-esconde, polícia e ladrão, bolinha de gude. Hoje livros, provas, trabalho. A infância com seu encanto nostálgico sempre lembra da maravilha de ser criança. O tempo encurta, o mundo nos força a crescer, tomar responsabilidades, criar independência. Mas quem disse que é fácil?
A pressa anda ao seu lado, medos precisam ser enfrentados, convicções tornarem-se atitudes, personalidade constituir força.
A pressa anda ao seu lado, medos precisam ser enfrentados, convicções tornarem-se atitudes, personalidade constituir força.
Como é difícil sair da inércia
da minha infância tão pura e singela
Como é difícil desprender de medos
que estão amarrados ao passado
Eu sinto
O chão tremer
Eu vivo
Num canto rodeado de preocupações
Vamos garoto !!!
Vamos garoto !!
Vamos garoto !
Vamos garoto !!
Vamos garoto !
O mundo está chamando...
Cresça!
Não quero mais que obedeça...
Simplesmente porque estão lhe ordenando
Vibre !
Com o seu revólver de calibre 38
Extermine argumentos tiranos
Como é difícil deixar uma festa
Pra conviver com o fantasma da pressa
Como é difícil prever o futuro
Oh linha do tempo cada vez mais curta
Eu crio
Um som, o meu
Destino
Abandonando a indecisão
Vamos garoto !!!
Vamos garoto !!
Vamos garoto !
Vamos garoto !!
Vamos garoto !
O mundo está mudando
Cresça !
Não quero mais que você desça
ao nível de quem só vive mendigando
Grite !
Em um alto-falante, atire pedras,
dispare contra um sermão insano
Destrua tudo aquilo que te acorrenta
Na mesmice, no marasmo
Corra, desfrute de sua independência
Pois por você ninguém mais correrá
sábado, 12 de maio de 2012
Aventura de amor
Ei você
Sente nada e tudo ao mesmo tempo
Confuso fervor de sentimentos
Ei você
Vem viver comigo essa aventura (de amor, de amor)
Construir castelos de ternura
Wo ho wow
Libertarei esse amor do teu peito
Remendarei rachaduras com beijos
Passearemos num voo rasante
Enxergando infinito, ao olhar o horizonte
Que selva negra de folhas cortantes
Serei o rio em que escoa teu sangue
A toda dor que margeia estes planos
Se transforme em amor num oceano de sonhos
Ódio ou amor?
Prazer ou dor?
Terá você que descobrir
Seu sentimento aguçará
Ao ponto de você explodir
Venha viver, se aventurar, se jogar
Pois do seu lado, estarei até o fim
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Democracia de tolos
Sem educação, a democracia não passa de mera ilusão.
Concedi o poder a velhos coronéis
Que compram sua liberdade à troco de migalhas
Divulgo notícias modificadas de acordo
Com os interesses de quem patrocina o jornal
Mantenho conhecimento na mão de poucos
Pois afinal não quero que saibam
Sou a democracia de tolos
Depressa, levantem as mãos
Lá vem eles, os representantes da nação
Escondendo seus esquemas fraudulentos em votos secretos
Governamos pro partido, foda-se o progresso
Negocio os cargos de ministério
Os imbecis a comando da corrupção
Ninguém consegue provar o que já foi feito
Lá vem o STF com a absolvição
Enquanto isso o povo lá sentado
Vendo seu dinheiro e esperança
Escoarem pelo ralo
É eleição
O circo está armado
Azul contra vermelho
Demagogia pros otários
Marketeiro empregado
Horário obrigatório
Debate sem riqueza
Só me interessa o seu voto
Princípios denegridos
Interesses exaltados
Tudo para manter
O meu fiel eleitorado
O qual não me conhece
Não sabe quem eu sou
Nasceu no sistema
Que não o educou
Depressa, levantem as mãos
Lá vem eles, os representantes da nação
Escondendo seus esquemas fraudulentos em votos secretos
Governamos pro partido, foda-se o progresso
Quer um emprego no governo?
Eu posso lhe dar
Estabilidade permanente
Ninguém vai lhe cobrar
Vou inventar novos impostos
Criar novos cargos
Pra ampliar a ineficiência
Do aparelho do estado
Sou a democracia de tolos
De todos nós
terça-feira, 1 de maio de 2012
Quando os sentimentos lhe traem
Folha de papel espalhada a mesa, violão no colo esperando o dedilhar, canetas a postos para borrar e desborrar, riscar e delinear. É hora de compor. É hora de arremessar ao chão a suja sobrecasaca do dia-dia, que envolve, e espessa a pele, que esconde as verdadeiras emoções e nos protege do frio do desamor.
Os sentimentos começam a migrar. Eles, antes reclusos e escondidos nas profundezas do coração, emergem a pele, emanam do corpo o calor do "sincero eu". É quando finalmente a latência desse calor se intensifica e toma vida, acendendo a chama da alma que estava adormecida entre pressões e mentiras.
A alma, ainda sonolenta pelo seu repentino despertar, começa devagarinho a lhe cochichar os segredos, suas agonias e alegrias, suas fraquezas e virtudes. Confissões se misturam e se separam no fogo, que respinga verdade em palavras. As palavras vibram, a melodia, o ritmo e harmonia flamejam em brasa ardente.
O fogo cessa, e a alma volta a dormir. Quando se olha o chão, da antiga sobrecasaca não sobraram mais que meras cinzas. O lado bom? A leveza da verdade. O lado ruim? A sensibilidade. Sua face durona perdeu sua rigidez, a sua voz abdicou da imponência intimidadora, seus olhos renunciaram a olhares frios e indiferentes. Agora você está vulnerável, sua cara está dada a tapa para os dissimulados que fingem nada sentir.
São quando os sentimentos lhe traem. Mas pensando bem, pra que tentar fingir ou ludibriar? É melhor sofrer por aquilo que você é, do que viver na mentira que o mundo criou.
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